domingo, 22 de setembro de 2013

Obras encolhidas (por Diomar Konrad)


 
O publicitário Diomar Konrad é mais uma grande fera da literatura santamariense - que o De Letra considera mesmo uma espécie de “Millor da Boca do Monte” pelo seu talento frasístico! - e, bem, sem mais delongas, temos o orgulho de publicar aqui então alguns "drops" dessas perspicácia e ironia - o tempero que dá o definitivo sabor a quase todos os "pratos" servidos pelo Diomar - extraídos do seu ótimo “Obras Encolhidas” (Cara, foi difícil selecionar entre tanta coisa boa lá, mas, mais adiante - e se o Diomar nos autorizar novamente, é claro - , pretendemos publicar mais algumas dessas geniais tiradas por aqui - na próxima, pinceladas também da sua sequência, "Obras encolhidas 2"...). Ei-los, pois:
 
Classe média: Classe média é o cara que leva carão em baile social e apanha em baile de vila.”
 
O corpo: “Nem todo corpo fala. Alguns apenas resmungam.”
 
Ironia: “Antes eu ironizava pra disfarçar que não sabia das coisas. Agora porque sei.”
 
Ironia é uma vã tentativa de conciliar sua vida com a idiotice dos outros.”
 
O trem da História: “Todas as pessoas pegam o trem da História, mais cedo ou mais tarde. Só que muitas no vagão de carga.”
 
Tétano: “O tétano já pode ser considerado doença venérea. Quem fica um tempo sem transar acaba enferrujando.”
 
Preguiça: “Preguiça e expediente são duas coisas que terminam na mesma hora.”
 
Ciúme: “Quando o ciúme está em alta, o ego está em baixa.”
 
Revolução: “Se esta for feita, será pelos solteiros.”
 
: “A fé remove montanhas. A dinamite é um tipo de fé.”
 
O fim da relação: “Desculpe, foi engano.”


domingo, 15 de setembro de 2013

Política III (por Juliano Lanius)


            Falemos um pouco sobre dívida. Especificamente a contraída pelo RS ao longo dos anos de sua história. Como somos residentes deste solo, o déficit orçamentário impacta nossa vida significativamente, pois são os nossos impostos que pagam o custo desta dívida. Claro, pois já não pagamos mais simplesmente o débito propriamente dito do Estado, mas os custos que este buraco financeiro demanda, como juros, taxas e transações bancárias. Fazendo uma simples conta, dividindo-se o valor total da dívida pelo número de habitantes do RS, temos a modesta cifra de 4,4 mil per capita. Ou seja, nossas crianças já nascem com cadastro nos órgãos de proteção ao crédito.

            Então, depois desta conta, podemos entender os porquês das faltas de assistências básicas como saúde, educação, segurança e transporte. Com tantos custos a serem pagos por causa da dívida, é improvável que sobre algum dinheiro para investimentos na melhoria da qualidade dos serviços prestados aos habitantes desta terra e, consequentemente, da sua qualidade de vida.

            Mas, ainda há esperanças. Ainda temos pessoas dispostas a lutar contra as “burlagens” cometidas por servidores mal intencionados, que se valem de certos privilégios empregatícios – que, diga-se de passagem, somente os empregos públicos oferecem – para obter ainda mais vantagens. No tocante a isso, soube-se que o prefeito de Lavras do Sul prestou queixa policial contra um médico, que deveria estar presente no posto de saúde, mas não estava. O doutor se encontrava em seu consultório particular, ganhando alguns dinheiros extras, enquanto aqueles que não possuem recursos financeiros para consultas particulares aguardavam atendimento sem a noção de que já deveriam ter sido atendidos. Como diz uma amiga: “O sistema é bom, o ruim são as pessoas”.

            Com o advento da tecnologia, somos bombardeados com informações das mais diversas, todos os dias, oriundas dos mais diferentes setores do país e do mundo. Muitas notícias nos agradam, outras não. Mas, mesmo assim, possuímos o filtro da escolha. Acessamos aquilo que nos é interessante, que vai de encontro aos nossos costumes e ideais.

Contudo, nunca é tarde para mudarmos o foco. E, com tanta informação flutuando por aí, existem aquelas que nos são vetadas. São guardadas a sete chaves, como segredos de estado, que é o que realmente são. Surgiu até uma lei de Acesso a Informação, em que os salários dos servidores públicos e suas prestações de conta com a comunidade deveriam ser expressos nos sítios eletrônicos municipais. Como constatamos, não é exatamente o que ocorre. As páginas municipais ainda são falhas e incompletas, divergindo das diretrizes estabelecidas pelo governo federal. Percebemos, neste momento, que quem estabelece as regras do jogo político brasileiro, também não as fiscaliza. Simplesmente as normas são estabelecidas, num sistema vertical de governança, sem levarem-se em consideração as peculiaridades de cada região.

Foi dito que as informações deveriam estar no site, e não estão. Então? Tudo na mesma, cada um faz aquilo que quer. Mas isso é uma questão de cultura. Ou quem sabe tradição, ou folclore. Não sei. Somente entendo que não somos acostumados a pedir explicações aos nossos governantes. Estes fazem e acontecem e fingimos nem ver. Ou, às vezes, nem entendemos o que se passa. Ou, outras vezes, não queremos entender. Escolha nossa, tudo na mesma.

domingo, 8 de setembro de 2013

Pelos sebos da vida (por Camilla Caetano): "O encantandor: Nabokov e a felicidade" (Lila Azam Zanganeh)


Quem nos dá a honra da "participação especial" no De Letra hoje com esta sua encantadora (com o perdão do trocadilho) resenha é a Camilla Caetano. A Camilla é uma leitora voraz e mantém também um blog de literatura, que é o "Companhia de Papel": http://companhiadepapel.blogspot.com.br/


Mais um livro que arrebata o coração e confirma meu prazer pela leitura: O Encantador - Nabokov e a felicidade (2011), de Lila Azam Zanganeh.
 

Fui hip-no-ti-za-da pelo texto cuja beleza transcende as linhas e parágrafos e conduz a um mergulho em apneia no significado de felicidade. Essa palavra mágica que desponta como ideal de vida de 99% das pessoas e que quando vai embora a saudade no peito ainda mora e é por isso que eu gosto lá de fora onde sei que a falsidade não vigora.

Conheci a jovem escritora franco-iraniana Lila Azam pelo site da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP 2013), que previa sua participação no dia 5 de julho na mesa de debate ´O prazer do texto`.

Entusiástica e estudiosa da obra de Vladimir Nabokov, Lila apresenta um ensaio sobre a felicidade a partir da fusão de biografias (dela e de Nabokov) e ficção. “Tomei a liberdade de misturar os gêneros – o eu torna-se personagem fictício. Cada capítulo do livro apresenta uma ideia de felicidade segundo o autor: a felicidade após a morte, a felicidade na memória, a felicidade no amor, felicidade na natureza, felicidade em palavras”, explica Lila.

Nas histórias e personagens de `Lolita´; `Ada ou Ardor´; e `Fala, memória´ há aquele olhar apurado sobre a vida e a natureza, apto a revelar o belo até mesmo nas pedras do caminho. E é por conta deste olhar que Lila intitula Nabokov como o ´escritor da felicidade`! Ele acreditava firmemente que a natureza daria o dom da felicidade aoobservador cuidadoso (p. 187).

Com autorização do filho (Dmitri Nabokov), O Encantador contém inúmeros trechos pinçados dos livros que citei acima, o que rendeu butterflies in the stomach pra ler Nobokov!! Acredito que a intenção mesma da autora foi desconstruir a criticada abordagem de temas sórdidos e revelar a faceta estilística do escritor, senão enaltecendo sua sensibilidade de colecionador de borboletas. Bons escritos tem um poder que só a inteligência emocional é capaz de captar, porque ressaltam a textura e a luminosidade dos detalhes e favorecem registros de otimismo e esperança que podem escapar à consciência. Daí dizer que leitura é fonte de felicidade. Ou nas palavras de Lila Azam: lemos para reencantar o mundo (p. 18).

Inexoravelmente inspirada por seu ídolo, Lila tem uma linguagem envolvente e faz descrições sinestésicas! Com uma significativa carga de subjetividade, tudo o que sabemos ou sentimos acontece por meio do tato, visão, olfato, paladar e audição, e feliz o escritor que, nesse sentido, aproxima palavras e sensações. Aliás, para Nabokov a grande literatura era uma conquista da linguagem, não das ideias (p. 134). 

Por essas e outras que sorvi com deleite as 296 páginas, formato 15x23, com tradução de José Luiz Passos, Alfaguara. Também não posso deixar de falar do projeto gráfico que contribuiu para meu `encantamento´: além de margens de 3 e 2,5cm pra quem adora tomar notas, a capa da edição brasileira é essa lindeza toda com fundo azul celeste e mariposas technicolor voando de dentro de um livro. É muito amor!

Todos hão de concordar que para cada vivência há textura, cor, cheiro, sabor ou canção apropriada que, a meu ver, são elementos reais e concretos pra construir a dita felicidade!

E talvez a realidade não seja duração. Muito embora seja tentador pensar que sim. (...) O presente é a memória sendo feita. (p. 123).
 

Cada vez que me miras

cada sensación

se proyecta la vida

mariposa technicolor
 

Um beijo bom, Camilla.
 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Quem foi? (por Diego T. Hahn)


- Hmmm!! Hmmmm!!! – geme o sujeito, amarrado à cadeira e amordaçado, remexendo-se de um lado para o outro. Tem um olho roxo e um filete de sangue escorre da sua cabeça. Ele cheira mal. Muito mal.
Por trás, mansamente, vem caminhando um outro sujeito, batendo ameaçadoramente com um punho fechado na palma da outra mão repetidas vezes. Uma moça passa para esse cara uma marreta, que ele colhe e de imediato a usa para golpear o joelho do que está preso à cadeira.
- HHHHHHMMMMMMMMMMMMMMM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
- Quem foi? Quem foi? Vai me dizer ou não?? – ele pergunta baixinho, aproximando bem o rosto do outro, que continua com os olhos fechados, como ainda processando a dor daquela pancada. Vem um outro soco na cara, que faz o sujeito cair com cadeira e tudo no chão.
A moça o recolhe e recoloca na posição anterior. O grandão volta à carga e dá um bofete na orelha do sujeito, que começa a chorar.
- Quem foi? Quem foi? – repete a pergunta o verdugo.
A moça chega por trás e despeja um balde com um líquido com um conteúdo indecifrável, com uma cor indistinta, e fedendo muito, sobre a cabeça da vítima, que treme e volta a gemer apavorado. Logo, coberto com aquela gosma, ele tem dificuldade até mesmo de respirar.
O grandão dá umas duas voltas caminhando lenta e calmamente ao redor do coitado, puxa um chicote e estala uma, duas, três vezes nas costas dele.
- HMMMMMMMMMMMMMM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
O algoz suspira fundo. Coloca a mão no ombro da colega e fica olhando para o cara na cadeira, quase não conseguindo distinguir seu rosto em meio àquele coquetel de gosma, sangue e lágrimas. Ele puxa um tresoitão da cintura, engatilha o trabuco, volta a se aproximar do outro e, encostando a arma na sua têmpora, pergunta baixinho:
- Quem foi? Quem foi? Me diz. Me diz. – e continua, aumentando o tom, indaga mais duas vezes – Quem  foi??... Hã? HÃ?? Quem foi que passou...
E gritando e tirando na sequência a mordaça da boca do cara, conclui o interrogatório:
 – ... NA POOORRA da ENGENHARIA???????
Ao que vem finalmente a confissão desesperada – FUI EU! FUI EU!! FUI EU!!!!!! – seguida de um gemido e um choro convulsivo baixinho – Fui eeeeeuuuuuuuuu!...  –  e o grandão larga então uma triunfal interjeição do tipo “UH!!” e ergue os dois braços em pose de vitória, ainda empunhando o chicote e a marreta, ao lado da moça que sorri com o balde na mão, sendo saudados com uma estrondosa vibração pelos colegas que acompanhavam tudo agachados em círculo ao redor.
- PRÓXIMOOOO!... PRÓXIMO BIXOOO!!...
 
A produção esclarece que nenhum bixo foi realmente maltratado na construção deste conto (mendigos e indigentes foram utilizados nos trechos mais violentos).
De qualquer maneira, o Ministério da Educação adverte: passar no vestibular às vezes pode ser prejudicial à saúde.
 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Segunda (e derradeira!) parcial do projeto crowdfunding "Flashbacks de um mentiroso 2" (por Diego T. Hahn)

Bom, como estabelecido no cronograma do projeto (http://deletradj.blogspot.com.br/2013/07/projeto-crowdfunding-flashbacks-de-um.html), aqui vai a segunda (e derradeira! A próxima atualização será já com o resultado final) parcial do andamento do mesmo.

Até o momento, atingimos cerca de 65% do montante necessário para a produção da obra.

Pois temos menos de um mês até a conclusão da etapa de colaborações! É até o final de setembro e depois NÃO TEM CHORO!!

"Aaaaahh, Diego!! Já acabou?? Passou tão rápido e eu nem me dei conta!..."

NÃO TEM CHORO!!

"Aaaaahh, Diego!! Não acredito que não vou poder fazer parte dessa fantástica aventura literária!"

NÃO TEM CHORO!!!

Agilize para não perder o bonde da História!!

Lembrando para os amigos que prometeram colaborar e ainda não colaboraram que a “Cota taco de beisebol”  (http://deletradj.blogspot.com.br/2013/07/primeira-parcial-do-projeto.html) continua reservada para vocês e a qualquer momento poderão ser agraciados com a devida contrapartida!!

E a grande novidade do projeto:

Para os não-colaboradores em potencial (aqueles que aparentemente, tendo prometido algo ou não, não aderirão ao projeto), já adiantamos aqui também uma cota especial que está sendo preparada especialmente para eles no caso de confirmarem essa sua não-colaboração, que é a “Cota souvenir das Antilhas”.
Bem, para ser bem breve, é mais ou menos assim: não aderindo ao projeto, serão encomendados diretamente do Haiti alguns bonequinhos de pano com as caras desses não-colaboradores desenhadas nos mesmos e os caros amigos serão então agraciados em seguida com 3 meses ininterruptos de acupuntura involuntária à distância!... Fantástico, não??
Tudo pela arte!!
Bom, por ora era isso...
Abraços sinceros, cordiais e afetuosos (aos que já colaboraram, claro)!!!
Consultoria em “marketing agressivo”: Famiglia Corleone e Amici.